A obra do escritor Alexandre Calladinni retrata a sua
trajetória profissional na aviação civil e de como precisou superar muitos
medos e preconceitos para alcançar sucesso em sua profissão. Nos fala também de
como muitas vezes é possível obter êxito em um determinado segmento e outro ser
um completo fracasso.
Para
realizar o seu curso de comissário de voo, precisou renunciar do conforto da
casa de seus pais no Rio de Janeiro, vindo com a cara e a coragem morar em uma
pensão em São Paulo onde tudo era desorganizado e não tinha privacidade nem
segurança para deixar os seus itens pessoais.
O
cotidiano do trabalho, apesar de exaustivo e estressante, lhe proporcionou a
prática da língua inglesa, viagens para a Europa e Estados Unidos.
Chefes
de bordo, que são conhecidas na aviação como “mães” para jovens comissários e
comissárias, trouxeram aprendizado ao autor sobre como lidar com pessoas que
são altamente capacitadas e ao mesmo tempo frustradas por, estando em uma
rotina intensa de trabalho, muitas vezes não terem alcançado a sonhada promoção
em estar em voos internacionais acabam descontando suas frustrações em seus
filhos de aviação.
Devido
a isso, o protagonista jurou ser um bom profissional e, quando tivesse a
oportunidade de ter filhos de aviação, seria justo e compreensivo para assim
dar-lhes motivação para a realização de um bom trabalho.
Em
paralelo namorava com o Marcelo e este não entendia muito a sua profissão.
Devido a distância e ao trabalho o relacionamento se tornava frio e distante.
Ele só deseja que Alexandre fizesse suas vontades e, como o amor é cego fazendo
com que a gente se deixe levar, tudo era feito assim.
Carlos,
o seu pai da aviação, foi um mestre que lhe deixou tranquilo e lhe explicava
tudo com paciência. Com ele conseguiu sua promoção de aprendiz para comissário
por ter mostrado dedicação, atenção e carinho aos passageiros.
Durante
algum tempo em voos nacionais passou a se destacar por sua pontualidade, conhecimento
técnico, desenvoltura com os colegas e logo foi promovido para voos
internacionais. Só que não contava em reencontrar a sua antiga mãe Laika em um
desses voos, no qual ela fez tudo para prejudicá-lo.
Passa
a morar em uma casa com outros e outras comissárias de voo. A princípio a sua
solução pareceu boa para sair dos caos da pensão onde vivia e assim ter mais
intimidade. Só que depois tudo virou um pesadelo: desorganização e um cachorro
que fazia muita sujeira. O único onde havia paz era o seu quarto.
Teve
um lance casual com um dos comissários que também era gay. Em seu íntimo,
sentia falta de ter algo mais sério com alguém e acaba conhecendo Gustavo em
uma balada. A princípio o namoro ia a mil maravilhas, porém, com o tempo, o rapaz
mostra-se ciumento e possessivo. Por isso, o relacionamento acaba findando.
Algum tempo depois,muda-se para um novo apartamento e percebe-se feliz por ter uma casa do seu jeito e com cara de verdadeiro lar.
Existem
profissões que despertam fantasias e uma delas é a de comissário. Um passageiro
chamado Adalberto manda uma carta muito interessante para o protagonista
Alexandre. Relutante acaba marcando um encontro com o Adalberto lá descobre que
ele é casado e tem dois filhos. Que não era nada bonito ou elegante e ainda
desejava um miche discreto para encontros em seu loft.
Por
isso, chegou à conclusão que existem certas historias que ficariam melhores na
imaginação do que postas em prática.
Para
dar fim as suas desilusões amorosas buscou não pensar mais nem em Marcelo, nem
em Alex e em mais ninguém e por isso resolveu reconstruir o seu coração para assim vivenciar novas desventuras que
a vida lhe permitisse.
Para
ilustrar o seu recomeço pessoal e o que a sua profissão representava em sua
vida inseriu um belo poema de Carlos Drummond de Andrade demonstrando assim o seu
amor em ser comissário.
“Bom dia
para você. E também para os bens terrestres da alegria, de segurança
profissional, de vida fluindo em paz, pelo reconhecimento do papel admirável
que você desempenha na aviação contemporânea. Que um dia ao baixar da altura
para a vida comum, você encontre entre nós a mesma compreensão generosa, o
mesmo carinho lúcido que hoje recebemos de você no voo”.
Perceber que um comissário
de voo pode ser alguém alegre com passageiros e os seus colegas de trabalho,
apesar de ter um trabalho estressante e sério por estar responsável por muitas
vidas na aeronave, é algo que me deixou surpreendido.
Assumir
aos poucos a sua orientação sexual enfrentando comentários maldosos foi um ato
de coragem e mostrou que obstinação pode levar alguém ao longe.
Por
mais decepções que se sofra na vida é sempre uma oportunidade de recomeçar para
assim ser maior do que elas.
Muitas
vezes temos de ser bons conosco para assim atrairmos pessoas que realmente nos
amem por quem somos e não por que possamos vir a oferecer.
Quando
amamos realmente algo ele passa a ser mais importante do que nós mesmos, e por
isso nos esquecemos de viver outras coisas. Mas a vida sempre prega peças e,
quando esse algo não nos é mais permitido viver, nos vemos sem chão.
As
crises de identidade que enfrentamos nos fazem fortes para encarar nossos
demônios internos e nos renovarmos se realmente quisermos pagar para ver o que
o destino tem a nos oferecer.
Alexandre
Calladinni mostra que amar mesmo que traga decepções é necessário para a nossa
evolução. O amor é como uma rosa tem um belo aroma e design só para que chegar
até ela tem de passar por espinhos. Se você sabe a grandeza desse sentimento, e
em nome dele correr os riscos necessários para tê-lo consigo, pode assim dar
beleza e magia à vida.
Voar
como os pássaros é algo necessário àqueles que possuem o desejo de desbravar o
mundo sem convencionalismos existentes. Por isso, percebi que ser comissário de
voo para Alexandre era como ter asas em uma sociedade que tudo impossibilita
aos ditos diferentes.
Calladinni
foi um nome escolhido por ele para representar o seu verdadeiro ser e ele fez
essa escolha quando fazia teatro. Podemos muitas vezes escolher nomes,
profissões, ter ou não ter certos tipos de experiências. Só não podemos
esquecer que exercitar o direito do livre arbítrio sem condicionalismos é o que
faz crescer e ser humano na realidade.
Alexandre Calladinni
Se
esse livro tivesse uma trilha sonora para defini-lo, seria como uma onda no mar "Como uma Onda (Zen-Surfismo)" gravada por Lulu Santos em 1983, composta por ele e pelo jornalista e escritor Nelson Motta para a trilha sonora do filme Garota Dourada, de Antônio Calmon. E posteriormente interpretada por Tim Maia. Os trechos abaixo representam a dinamicidade existente em
nossa trajetória que, apesar dos acontecimentos bons ou ruins, nos fazem
crescer e superar as adversidades existentes para assim sermos mais fortes e
capazes de estar dando passos para conquistar o nosso ideal de felicidade.
“Nada
do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo
Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar”
Link no qual poderá encontrar seu exemplar caso tenha interesse em comprá-lo:
Caso tenha interesse em conversar o escritor Alexandre Calladini sobre a obra, sua home page é:
E a fanpage do livro para quem se interessar em compartilhar a sua experiência de leitura com outros.
Espero que tenham gostado. Em breve novas resenhas!
Obrigado pela resenha. Fico muito feliz que tenha curtido. Beijos imensos.
ResponderExcluirAdorei de verdade cada linha escrita e espero um dia escrever como você,querido amigo Alexandre.
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