quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Resenha do livro Jeito Calladinni de Voar – Diário de um Comissário de Voo

A obra do escritor Alexandre Calladinni retrata a sua trajetória profissional na aviação civil e de como precisou superar muitos medos e preconceitos para alcançar sucesso em sua profissão. Nos fala também de como muitas vezes é possível obter êxito em um determinado segmento e outro ser um completo fracasso.

                                    

Para realizar o seu curso de comissário de voo, precisou renunciar do conforto da casa de seus pais no Rio de Janeiro, vindo com a cara e a coragem morar em uma pensão em São Paulo onde tudo era desorganizado e não tinha privacidade nem segurança para deixar os seus itens pessoais.

O cotidiano do trabalho, apesar de exaustivo e estressante, lhe proporcionou a prática da língua inglesa, viagens para a Europa e Estados Unidos.

Chefes de bordo, que são conhecidas na aviação como “mães” para jovens comissários e comissárias, trouxeram aprendizado ao autor sobre como lidar com pessoas que são altamente capacitadas e ao mesmo tempo frustradas por, estando em uma rotina intensa de trabalho, muitas vezes não terem alcançado a sonhada promoção em estar em voos internacionais acabam descontando suas frustrações em seus filhos de aviação.

Devido a isso, o protagonista jurou ser um bom profissional e, quando tivesse a oportunidade de ter filhos de aviação, seria justo e compreensivo para assim dar-lhes motivação para a realização de um bom trabalho.

Em paralelo namorava com o Marcelo e este não entendia muito a sua profissão. Devido a distância e ao trabalho o relacionamento se tornava frio e distante. Ele só deseja que Alexandre fizesse suas vontades e, como o amor é cego fazendo com que a gente se deixe levar, tudo era feito assim.

Carlos, o seu pai da aviação, foi um mestre que lhe deixou tranquilo e lhe explicava tudo com paciência. Com ele conseguiu sua promoção de aprendiz para comissário por ter mostrado dedicação, atenção e carinho aos passageiros.

Durante algum tempo em voos nacionais passou a se destacar por sua pontualidade, conhecimento técnico, desenvoltura com os colegas e logo foi promovido para voos internacionais. Só que não contava em reencontrar a sua antiga mãe Laika em um desses voos, no qual ela fez tudo para prejudicá-lo.

Passa a morar em uma casa com outros e outras comissárias de voo. A princípio a sua solução pareceu boa para sair dos caos da pensão onde vivia e assim ter mais intimidade. Só que depois tudo virou um pesadelo: desorganização e um cachorro que fazia muita sujeira. O único onde havia paz era o seu quarto.

Teve um lance casual com um dos comissários que também era gay. Em seu íntimo, sentia falta de ter algo mais sério com alguém e acaba conhecendo Gustavo em uma balada. A princípio o namoro ia a mil maravilhas, porém, com o tempo, o rapaz mostra-se ciumento e possessivo. Por isso, o relacionamento acaba findando.

Algum tempo depois,muda-se para um novo apartamento e percebe-se feliz por ter uma casa do seu jeito e com cara de verdadeiro lar.

Existem profissões que despertam fantasias e uma delas é a de comissário. Um passageiro chamado Adalberto manda uma carta muito interessante para o protagonista Alexandre. Relutante acaba marcando um encontro com o Adalberto lá descobre que ele é casado e tem dois filhos. Que não era nada bonito ou elegante e ainda desejava um miche discreto para encontros em seu loft.

Por isso, chegou à conclusão que existem certas historias que ficariam melhores na imaginação do que postas em prática.


Para dar fim as suas desilusões amorosas buscou não pensar mais nem em Marcelo, nem em Alex e em mais ninguém e por isso resolveu reconstruir o seu coração para assim vivenciar novas desventuras que a vida lhe permitisse.

Para ilustrar o seu recomeço pessoal e o que a sua profissão representava em sua vida inseriu um belo poema de Carlos Drummond de Andrade demonstrando assim o seu amor em ser comissário.

Bom dia para você. E também para os bens terrestres da alegria, de segurança profissional, de vida fluindo em paz, pelo reconhecimento do papel admirável que você desempenha na aviação contemporânea. Que um dia ao baixar da altura para a vida comum, você encontre entre nós a mesma compreensão generosa, o mesmo carinho lúcido que hoje recebemos de você no voo”.

Perceber que um comissário de voo pode ser alguém alegre com passageiros e os seus colegas de trabalho, apesar de ter um trabalho estressante e sério por estar responsável por muitas vidas na aeronave, é algo que me deixou surpreendido.

Assumir aos poucos a sua orientação sexual enfrentando comentários maldosos foi um ato de coragem e mostrou que obstinação pode levar alguém ao longe.

Por mais decepções que se sofra na vida é sempre uma oportunidade de recomeçar para assim ser maior do que elas.

Muitas vezes temos de ser bons conosco para assim atrairmos pessoas que realmente nos amem por quem somos e não por que possamos vir a oferecer.

Quando amamos realmente algo ele passa a ser mais importante do que nós mesmos, e por isso nos esquecemos de viver outras coisas. Mas a vida sempre prega peças e, quando esse algo não nos é mais permitido viver, nos vemos sem chão.

As crises de identidade que enfrentamos nos fazem fortes para encarar nossos demônios internos e nos renovarmos se realmente quisermos pagar para ver o que o destino tem a nos oferecer.

Alexandre Calladinni mostra que amar mesmo que traga decepções é necessário para a nossa evolução. O amor é como uma rosa tem um belo aroma e design só para que chegar até ela tem de passar por espinhos. Se você sabe a grandeza desse sentimento, e em nome dele correr os riscos necessários para tê-lo consigo, pode assim dar beleza e magia à vida.

Voar como os pássaros é algo necessário àqueles que possuem o desejo de desbravar o mundo sem convencionalismos existentes. Por isso, percebi que ser comissário de voo para Alexandre era como ter asas em uma sociedade que tudo impossibilita aos ditos diferentes.

Calladinni foi um nome escolhido por ele para representar o seu verdadeiro ser e ele fez essa escolha quando fazia teatro. Podemos muitas vezes escolher nomes, profissões, ter ou não ter certos tipos de experiências. Só não podemos esquecer que exercitar o direito do livre arbítrio sem condicionalismos é o que faz crescer e ser humano na realidade.

     Alexandre Calladinni 

Se esse livro tivesse uma trilha sonora para defini-lo, seria como uma onda no mar "Como uma Onda (Zen-Surfismo)" gravada por Lulu Santos em 1983, composta por ele e pelo jornalista e escritor Nelson Motta para a trilha sonora do filme Garota Dourada, de Antônio Calmon. E posteriormente interpretada por Tim Maia. Os trechos abaixo representam a dinamicidade existente em nossa trajetória que, apesar dos acontecimentos bons ou ruins, nos fazem crescer e superar as adversidades existentes para assim sermos mais fortes e capazes de estar dando passos para conquistar o nosso ideal de felicidade.
Nada do que foi será

De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará

A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo

Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar” 



Link no qual poderá encontrar seu exemplar caso tenha interesse em comprá-lo:

Caso tenha interesse em conversar o escritor Alexandre Calladini sobre a obra, sua home page é:

E a fanpage do livro para quem se interessar em compartilhar a sua experiência de leitura com outros.

Espero que tenham gostado. Em breve novas resenhas! 



2 comentários:

  1. Obrigado pela resenha. Fico muito feliz que tenha curtido. Beijos imensos.

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  2. Adorei de verdade cada linha escrita e espero um dia escrever como você,querido amigo Alexandre.

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