terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Resenha do livro - Ditadura e Homossexualidades: repressão, resistência e a busca da verdade


A obra foi organizada em 10 capítulos descritos abaixo pelo famoso historiador brasilianista da Universidade de Brown (EUA) James N. Green e por Renan Quinalha, advogado e cientista social pela USP (Universidade São Paulo), Mestre em Sociologia do Direito e Doutor em Relações Internacionais e integrante da Comissão de Verdade do Estado de SP - "Rubens Paiva pela Edufscar.





·        Capitulo I – Homossexualidade – Ideologia e “subversão” no regime militar – Benjamin Cowan

·        Capitulo II – Por baixo dos panos – repressão a gays e travestis em Belo Horizonte – Luiz Morando

·        Capitulo III – Um lampião iluminando esquinas da ditadura – Jorge Cae Rodrigues

·        Capitulo IV – Lésbicas e a ditadura militar: Uma luta contra a opressão e por liberdade – Marisa Fernandes

·        Capitulo V – As rondas policiais de combate a homossexualidade na cidade de São Paulo - (1976 – 1982) – Rafael Freitas Ocanha

·        Capitulo VI – O grupo SOMOS, a esquerda e a resistência à ditadura – James N. Green

·        Capitulo VII – De Denner a Chrysóstomo – A repressão invisibilizada: As homossexualidades na ditadura – Rita de Cássio Colaço Rodrigues

·        Capitulo VIII – A questão LGBT no trabalho de memória e justiça após a ditadura brasileira – Renan Quinalha

·        Capitulo IX – Da dissidência á diferença: Direitos dos homossexuais no Brasil da ditadura á democracia – José Reinaldo de Lima Lopes

·        Capitulo X – Contribuição sobre o tema ditadura e homossexualidades para o relatório final da Comissão Nacional da Verdade e Parceiras – James N. Green e Renan Quinalha.

·        Posfácio com falas de autoridades na audiência pública – “ Ditadura e Homossexualidade” na Comissão Nacional de Verdade – Paulo Sérgio Pinheiro, Marcelo Mattos Araújo e Adriano Diogo.


O livro foi idealizado durante os trabalhos da Comissão da Verdade realizada na ALESP - Assembleia Legislativa do Estado de SP em novembro de 2013, com o objetivo de retratar os horrores vividos por LGBTs no período de 21 anos em que o Brasil esteve sob o jugo da ditadura militar. 

Os dez capítulos existentes, os autores e colaboradores trazem diferentes abordagens sobre como cada grupo pertencente a sigla LGBT sofreu uma perseguição específica em relação a sua vivência homossexual nos sentidos afetivo sexual e social. 

No decorrer das partes mencionadas, é possível perceber que era muito comum que muitos psicólogos e médicos se utilizassem de termos patologizantes em relação a homossexualidade como: "inversão sexual" e "terceiro sexo", por acreditarem que a homossexualidade, tanto masculina como feminina, fazia a pessoa desejar vivenciar outro gênero. Hoje sabemos que isso é um absurdo completo pelo fato de muitas pessoas naquela época, por se entenderem de outra forma, nem conseguirem se perceber como homossexuais e também que nem todo gay ou lésbica necessariamente se expressa socialmente como padrões estereotipados impostos pela sociedade.

Nesse período histórico gays, lésbicas e travestis sofriam agressões constantemente por parte da polícia, agressões estas que eram encaradas como forma de proteger as famílias dos afeminados, e era muito comum acontecer demissões de pessoas consideradas invertidos, boêmios e inconformados com o seu gênero, como foi o caso que ocorreu em 1969. Durante o regime militar, em que se realizou o desligamento de representantes do Itamaraty no exterior devido a investigações feitas por denúncias anônimas e entrevistas feitas ao SNI (Serviço Nacional de Informações), CENINAR (Centro de Informações da Marinha) e agências estatais de segurança.

Outro exemplo de discriminação e hostilização social citado no exemplar aconteceu em 1960, na cidade de Belo Horizonte, onde ocorreu uma campanha de hostilização por meio de batidas policiais nos locais frequentados por gays e travestis como operações de saneamento e limpeza de vias públicas, como foram chamadas essas iniciativas; de leis e portarias que regulamentassem certas atividades artísticas; fechamento de bares e boates gays.

Um dos episódios marcantes de militância ocorridos nessa sombria época foi em abril de 1979, quando os editores do jornal Lampião da Esquina, publicação de temática homossexual do Rio de Janeiro, que circulou de 1978 a meados de 1981, convidaram as integrantes do grupo Lésbico Feminista a escreverem um artigo sobre lésbicas. Imediatamente, o convite foi aceito, pois até aquele momento a vivência lésbica só era tratada pela imprensa como patologia ou nas páginas policiais.

Apesar de toda a repressão as lésbicas se convenceram que tinham de mudar de postura e lutar por seus direitos, pois ninguém mais do que elas poderiam expor as suas demandas. A partir daí nasceram movimentos feministas e lésbicos focados em defende-las e trazerem a discussão do machismo e da misoginia existentes historicamente para a sociedade.

Em 13 de junho de 1980, mesmo diante de um cenário opressor, houve uma manifestação em frente ás escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, feita por lésbicas, negros, gays, travestis e prostitutas que sofriam violência devido a forças policiais das operações Rondão e Limpeza. A ação mostrou que apesar das opressões houve muita movimentação política nesse período.

Neste ato, lésbicas e todos os demais segmentos munidos de panfletos, explicavam às pessoas os abusos cometidos contra eles simplesmente por amarem quem amavam ou exercerem uma profissão em que se envolvia sexo. Apesar da manifestação ter se dispersado após um tempo, por suspeitas de policiais infiltrados, ela foi um marco para o movimento de setores considerados marginalizados socialmente, por terem entendido que o caminho era se unirem contra a ditadura e seus colaboradores.

Os organizadores e autores participantes deste projeto buscaram desvendar o cotidiano de violências e agressões sofridas por LGBTs, como isso de certa forma ajudou a esse segmento a se organizar de forma independente de outros movimentos sociais e. além disso, mostrar como a ditadura militar não só oprimiu LGBTs, mas toda uma nação, através de falas ultraconservadoras em nome de um progresso socioeconômico (muito semelhante ao que se passou na Alemanha nazista). Nos dias atuais existem setores conservadores e fundamentalistas religiosos que pedem a volta deste lapso histórico para, assim, ter maior controle sob a vida das pessoas. Por isso, conhecer o passado é importante, auxilia no entendimento que não se pode deixar com que erros celebres aconteçam na história da humanidade.

Ao finalizar minha leitura percebi que, enquanto houver um sistema capitalista que só visa dividir para conquistar, a opressão sempre existirá, que diante desse cenário de pluralidades certas diversidades serão consideradas minorias e, para estes conseguirem obter êxitos em suas lutas, terão de combater seus próprios preconceitos, através de estratégias sociopolíticas como conversas em ambientes informais e formais, seja se organizando em ONGs, coletivos, grupos estudantis ou universitários, sindicatos ou partidos políticos. Pois, para se conquistar uma sociedade equalitária, de fato tem de se quebrar muitos paradigmas em todos os setores sociais, através de muitas ações e estratégias que serão combatidas por setores majoritários e isso deve ser feito com união integral de todos os marginalizados (as) por serem ou viverem dissidentes a dita normalidade.


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Renan Quinalha - Organizador e um dos escritores 






























quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Resenha - O LIVRO SECRETO DAS MENTIRAS & MEDOS


A escritora Diedra Roiz, carioca radicada em Blumenau – Santa Catarina, formada em Direito pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e em Artes Cênicas pela UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), publicou seu primeiro livro, o romance O LIVRO SECRETO DAS MENTIRAS & MEDOS em novembro de 2009 e o segundo livro, a coletânea de contos BOLEROS DE PAPEL em Novembro de 2011.
                                                    

O livro conta a história de Victoria, Theo, Gui e Igor, quatro amigos que curtem a vida em boates e barzinhos LGBT.

Em paralelo às curtições, cada um deles tem uma sua própria rotina. Victória trabalha muitas horas em um consultório por ser uma cardiologista renomada. Vive uma relação de fachada com o seu melhor amigo Théo. Ambos são homossexuais e, por temerem o conservadorismo presente em suas famílias, resolveram vivenciar sua sexualidade em uma vida paralela.

Victória se descobriu lésbica após ter sofrido uma decepção amorosa na adolescência, quando se teve um amor não correspondido por Pietra, à época sua melhor amiga. Desde então, não acredita mais no amor e, no período em que se passa a história, fica com uma mulher diferente a cada dia, sem qualquer envolvimento.

Theo, por não acreditar em histórias de amor e vivenciar intensamente a sua homossexualidade às escondidas, opta por nunca se envolver emocionalmente com um homem.

Gui é assumido e curte a vida em todos os extremos ao lado de seus amigos.

Igor também é assumido só que quando o seu namorado optou por assumir a sua travestilidade não o abandonou aceitando discriminação do meio gay e também de seus amigos.

Luana é apaixonada por Igor e sua companheira e de seus amigos nas desventuras pelas noites afora.

A vida aparentemente perfeita de Victoria muda quando ela conheceu Jaqueline uma loira de olhos azuis, irmã do cunhado de seu suposto noivo na casa dos pais de Théo em mais uma das noites típicas de representação que o jovem “casal” fazia.

Depois desse encontro Victoria e Jacque passam a se encontrar e os sentimentos dela ficavam cada vez mais intensos e a fazem questionar como tem vivido. Jacque em compartida clama por uma resposta da mulher amada.

Há momentos na vida em que a vida nos impõe nos dilemas que determinam como será o resto de nossa jornada no caso de Victória seria assumir a sua sexualidade e vivenciar uma história de amor ao Jacqueline ou seguir como farsa ao lado do seu melhor Théo para satisfazer as expectativas familiares de ambos.

A trama nos faz pensar até que ponto a sociedade não entende que amor não é algo exclusivo de uma relação heterossexual.

Um exemplo clássico, do que ocorre com a maioria dos LGBTs é explicito no livro que a mãe de Victória sabe a verdade sobre a filha. Mas, prefere que sua filha reprima seus reais desejos e viva segundo o padrão heteronormativo cisgênero.

Na adolescência, muitas descobertas são feitas e quando carregados de preconceitos fazem com que elas sejam traumáticas e muito sofrimento seja levado para a vida adulta.

O trecho to fight or to flight – (lutar ou fugir) é decisivo para aqueles (as) que desejam dar um novo significado a sua existência.

Como passado volta em nossas vidas para uma espécie de acerto de contas e acaba nos envolvendo em uma trama que nos destabiliza por não sabermos lidar com a nossa verdade.

Muitas vezes usar as pessoas para esconder nossas angustias e traumas do passado como forma de escapar de nossos fantasmas.

Não se sabe se uma historia de amor durará por todo sempre, por algumas semanas, dias ou anos o que importa que ela deva ser vivida sem ser escondida e de forma plena quando ela não é vivida assim deixa muitas cicatrizes e questionamentos do porque a outra simplesmente nos deixou e foi buscar em outros braços o alento que tanto buscava.

Linguagem forte e intensa é o que deixa a leitura agradável. Há paixão, amor e intensidade na amizade dos quatro protagonistas, nas relações que cada um possui em suas vidas paralelamente e também na narrativa da autora ao descrever as cenas de sexo casual de Victória e outras mulheres desconhecidas e quando ela reluta em aceitar o seu sentimento por Jackie e quando elas finalmente se entregam a paixão.

Se fosse para definir o que seria amor segundo a autora escolheria o poema abaixo por ele retratar as contradições e as inquietudes presentes nesse sentimento volátil sem qual ninguém vive.
“Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?”
Luís Vaz de Camões

Quando finalizei minha leitura senti ecoar em minha mente uma música chamada Surround me with your love, interpretada pelo grupo 3-11 Porter por falar desse sentimento de posse e necessidade que o ser amado provoca em nosso ser.

Hello
Oi
I'm so lonely
Eu estou tão sozinho(a)
And it feels like disease
E os sentimentos são como doença
Come and stay, stay beside me
Venha e fique, fique perto de mim
Stay always forever don't go
Fique para sempre, não vá
Surround me with your love
Me envolva com o seu amor
Understand me I need you now
Me entenda, eu preciso de você agora
Surround me with your words
Me envolva com suas palavras
Understand me I need your love
Me entenda, eu preciso de seu amor


Diedra Roiz 

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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Resenha do livro BOLEROS DE PAPEL


A obra é de autoria da escritora Diedra Roiz, carioca radicada em Blumenau – Santa Catarina, formada em Direito pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e em Artes Cênicas pela UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). Publicou o livro: O romance O LIVRO SECRETO DAS MENTIRAS & MEDOS (2009).

                                          

Nos 12 contos presentes em BOLEROS DE PAPEL há sensualidade, leveza, passionalidade, romantismo e surpresas.

Uma escritora que desmistifica o clichê que duas mulheres não possam ter uma relação erótica e vibrante sem estarem emocionalmente conectadas.


Contos que mais chamaram a minha atenção em minha leitura foram os descritos abaixo:

TANGO BAILADO A TRÊS: Conta à história de Bruna, Flávia e Carol. Bruna namorava Flávia por algum tempo. Porém, seus sentimentos modificaram-se quando conheceu casualmente uma linda morena.  Sabemos que um triângulo amoroso gera inquietudes sobre como seria namorar duas pessoas ao mesmo tempo sem obrigatoriedade de ter optar apenas por uma delas. A nossa personagem envolta nas peças que o destino reserva aqueles que se mostram receptivos a ela não conseguiu escapar desse conflito. Ela não imaginaria o que estaria por vir em sua vida.

A mensagem contida neste conto é que pretender ter uma relação com uma ou mais pessoas nunca será passível de rupturas. Por alguma delas sempre sentirá falta de algo e buscará por isso mesmo que isso venha a provocar magoas em uma das envolvidas nessa história.

Quando a felicidade é buscada no número de vezes em que se transa com alguém ou em relações amorosas que se tem, algo está muito errado. Porque, ser e estar bem consigo mesmo é algo independente disso e só é atingido caso a pessoa deseje mergulhar profundamente em seus erros e acertos para assim descobrir como se resgatar do caos.


ESCURO ONDE MAIS SE VÊ: conta à história de Clara e Júlia que possuem um relacionamento de dois anos. De uma forma inesperada, elas rompem o relacionamento e o vazio se instala na vida dessas duas mulheres que se veem sozinhas depois de um tempo juntas. Era um relacionamento turbulento cheio de discussões e com isso veio o desgaste.

Por mais que se esteja junto de alguém não podemos ter a pretensão de controlá-lo usando como alegação, o ciúme. Ninguém pertence ao outro e se isso tem de premissa quando uma relação amorosa for iniciada para dessa forma não haver desgastes e bruscos rompimentos.

Amar é saber compartilhar momentos bons e ruins. Acima de tudo, ultrapassar as crises que virão no decorrer dos anos sem se deixar abalar com pressões externas oriundas dos ambientes sociais como amigos e familiares, por exemplo.

Saber que o momento de pausa nessa história de amor pode servir como um novo respirar pode determinar se ela terá ou não uma retomada.

MULATA BOSSA NOVA: Conta a história de Luciene e Marina que se relacionam há algum tempo. O relacionamento delas é caracterizado por dominação por parte de Marina que subordina sua companheira aos caprichos por atender suas necessidades financeiras. Uma noite de carnaval, Luciene cruza em um baile de carnaval com uma figura sensual e carinhosa fantasiada de mulher gato. Com ela vivencia uma avalassadora transa e depois que tudo acontece algo inesperado acontece.

Ao se pretender estabelecer um domínio sob o outro por vias financeira e psico afetiva. Logo, se haverá vontades a serem exploradas por esse alguém que não acabaram resultando em coisas agradáveis para a manutenção dessa relação.

Por mais, que certas verdades não sejam ditas de forma explicita elas permearão como fantasmas a espreita sempre dispostos a ressurgir em qualquer discussão corriqueira do casal.

Nunca a sensação de incompletude cessará pelo fato de não haver mais carinho, amor e admiração mutua.

As palavras controle e manipulação serão as bases dessa doentia parceria amorosa que tenderá com o tempo parecer com peças postadas de canto em um porão escuro.

Diedra nos faz entender que as relações amorosas entre duas mulheres são igualmente complexas e cheias de nuances com quais outras. São muito diferentes daquelas cheias de princesas encantadas a serem salvas por uma forte figura feminina. Que não há vilas e nem mocinhas nessa estrada da vida. E, sim pessoas que lutarão por sua felicidade independente do que acontecer depois. 
                          
Diedra Roiz

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Resenha do livro AMA/DOR/A


A obra da escritora Diedra Roiz, carioca radicada em Blumenau – Santa Catarina que é formada em Direito pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e em Artes Cênicas pela UNIRIO(Universidade Federal do Rio de Janeiro). Tem outros dois livros publicados: O romance O LIVRO SECRETO DAS MENTIRAS & MEDOS (2009) e a coletânea de contos BOLEROS DE PAPEL (2011).





Os poemas contidos em AMA/DOR/A são intensos, descritos, metafísicos, reflexivos, avalassadores, explosivos, românticos, bucólicos questionadores, antropofágicos, libertadores, caóticos, eróticos, empíricos, melancólicos, ditomicos, retrospectivos e profundos.


Há três que considerei particularmente interessantes e portadores de todos os adjetivos acima citados e capazes de proporcionar uma bela reflexão do que seja viver nesse mundo contemporâneo cheio de turbulências.

Em MAKE UP, percebe-se o quanto a superficialidade reina em nosso cotidiano e como ela nos conduz á relações aparentemente afetuosas que acabam nos destruindo por não terem sido construídas em sólidos alicerces de companheirismo e por buscarmos aparência física e status social em nossas relações em detrimento de um sentimento verdadeiro.

                                                       nas ruas nevrálgicas
o medo virtual das feras
deliro
redentoramente
todos os instantes
loucura sucinta
algumas belas
têm um hálito sem dentes
nem escrúpulos
rastejantes
deslumbradas
serpentes
que chacinam e dominam
aparentemente sem razão
na selva tecnicolor
é na maquiagem
que faz o leão

Em CARIOCA EM SEMITONS percebe-se uma nostalgia de uma época em que a violência não reinava soberana nas ruas do Rio de Janeiro e as pessoas podiam vivenciar as delicias que certos pontos turísticos ofereciam sem grandes preocupações. Apesar dos incidentes violentos, os cariocas e amantes dessa cidade não deixam de perceber suas belezas e de ter fé que um dia ela estará livre do mar de sangue e corrupção que nela se assolou.

eu já não sonho mais
apenas obedeço
me deixe
Glória Lapa Praça Mauá Tiradentes
deite sobre mim
os filhos do medo
recebo todos
.....................
então venha, meu amor
me largue em Ipanema
me troque no Rio-Sul
..............................
resisto
insisto
e não desisto
de você.

No último poema contido em AMA/DOR/A chamado DREAM A LITTLE DREAM percebem-se mensagens de esperança,renovação e ousadia;como elas podem fazer a busca pelo real propósito de aqui se estar ser algo belo e dinâmico;e que sonhar é algo permitido independente dos traumas que tenhamos carregados em nosso ser.

brindemos agora
ás impossibilidades possíveis
porque o que antes parecia irreal
o voo de Ícaro
a terra redonda
o sorriso de Gioconda
è agora banal e absolutamente bem visto
brindemos agora
áqueles
que insistem
no risível
no totalmente indisível
maravilhoso antissenso comum
nunca feito e permitido
brindemos agora a todos os proscritos
porque o cotidiano
é cheio de sonhos
ousados e realizados
por loucos varridos
que no pulsar do coração
simplesmente desaterrizam
                                                           o dia-a-dia

                            
Diedra Roiz

A autora nos faz quer mergulhar no universo poético por nos fazer entender que é possível elaborar poemas sem regras estéticas contidas nos poemas clássicos. Aparentemente desorganização métrica nos aproxima dos pensamentos e sentimentos intrínsecos em cada um deles de uma forma prazerosa.


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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Resenha do livro Mulheres que não sabem chorar

A obra da escritora Lilian Farias retrata como duas mulheres maduras passam a se amar depois de muitos desencontros que tiveram em suas vidas.

                                             

Marisa, 55 anos, mãe de dois filhos, florista e empresária, com uma vida estável então focada nos negócios e em cuidar de seus filhos, que não se percebia como mulher. Eventualmente tinha alguns relacionamentos casuais para dar satisfação aos seus pais e à sociedade e quando eles morrem, passa a viver mais o seu lado profissional.

Olga, divorciada, mãe de uma filha doente terminal, que devido a decepções tidas passou a usar o álcool como válvula de escape e que por isso, teve seu casamento desfeito. Sua personalidade articulada e observadora se perdia em seu vício, então passou a negligenciar cuidados com sua aparência e sua casa.

Essas vizinhas com personalidades e trajetórias tão opostas que se cruzam em um momento de em que Olga é exposta a uma extrema vulnerabilidade. A partir disso, elas passam a conviver mais e mais. De uma forma inusitada, iniciam um relacionamento amoroso que as faz questionar se realmente foram felizes em suas escolhas.

Dois aspectos interessantes do livro que relatam bem as contradições existentes no amor e que muitas vezes passam desapercebidas nas histórias adocicadas e tão clichês que não nos são vendidas pela grande mídia:

“O amor nos coloca em contato com o que temos de pior; quando nos abrimos para amar, sabemos que iremos experimentar, até esgotar e se renovar, o melhor; o dilema se contrapõe a isso: entramos em contato com o que temos de pior e responsabilizamos o mundo por isso”.
“Não é colocar expectativas nos outros, é estar preparado para conviver com o caos que nos habita.”

O livro expõe questões como a lesbofobia, a violência contra a mulher, o machismo, o preconceito advindo das próprias mulheres em viver uma relação homossexual, as histórias de mulheres em manicômios na década de 80 e também que as mulheres para não serem massacradas nesse mundo machista muitas vezes têm de ser fortes a qualquer custo, muitas vezes se privando de expressar seus sentimentos e sendo levadas a serem seres mais calculistas, perdendo-se em si mesmas e já não sabendo como vivenciar o amor.

Todos nós, em algum ponto de nossas vidas, cometemos erros - seja por imaturidade, seja por falta de coragem de assumir quem somos. No livro isso é mostrado quando Olga, depois de vivenciar o amor nos braços de Marisa, entra em contato com o seu ex-marido, Carlos, para expor suas razões e buscar de certa forma que ele a perdoe por tudo que ela lhe fez passar durante o tempo em que estiveram juntos.

Uma das coisas que mais me chamaram a atenção na obra foi a autora usar em cada capitulo da obra um nome de flor, homenageando a profissão de uma das protagonistas do romance. Salienta, ainda, a delicadeza, fortaleza e beleza existente nas flores e como cada mulher pode representada por cada uma delas.

As mensagens trazidas por “Mulheres que não sabem chorar” são que reconcliar-se com o passado é algo que deve ser feito a fim de esclarecer os nossos porquês, por erramos demasiadamente com os outros, pelo fato de estarmos vivenciando uma mentira impostamente socialmente e por nós mesmos com o objetivo de sobreviver neste mundo hipócrita e conversador; que o amor é um sentimento avalassador e pode nos levar a cometer atos terríveis contra nós e a pessoa que amamos; devido a pressões sociais, acabarmos vivenciando uma vida dupla para não expressarmos a nossa real face e evitar represálias sociais; encontrar a pessoa que tanto desejamos encontrar é algo que acontece quando menos se espera; uma relação sexual entre mulheres é intensa e ao mesmo tempo leve, por elas focarem em explorar seus corpos sem pudores; ressaltar um papel dominador machista que acontece em muitos casos mesmo em uma relação heterossexual; que o preconceito que existente em relação a homossexualidade faz com que muitas pessoas a vivenciem tardiamente em suas trajetórias, podendo libertá-las ou aprisioná-las dependendo de como as pessoas envolvidas conduzem o seu relacionamento.

A frase abaixo rege Marisa em relação a Olga e atualmente muitas histórias de amor funcionam com essa mesma premissa.
Eu a amava, só não sabia o que fazer com o amor.

 Lilian Farias 

Uma música que ilustraria bem essa leitura, para melhor compreendê-la, seria Always, interpretada por Bon Jovi:

Now your pictures that you left behind 
Agora suas fotos que você deixou para trás
Are just memories of a different life
São memórias de uma vida diferente
Some that made us laugh
Algumas que nos fizeram rir
Some that made us cry
Algumas que nos fizeram chorar
One that made you have to say good bye
 Uma que te fez dizer adeus

Link no qual poderá encontrar seu exemplar caso tenha interesse em comprá-lo: http://www.editoraliterata.com.br/p/romances.html

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Espero que tenham gostado. Em breve novas resenhas!