quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Resenha do livro O Outro Lado do Muro

A obra da editora All Print com o apoio da Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual, Governo do Estado de SP – Secretaria da Cultura e Programa de Ação Cultural do Estado de SP – PROAC escrita pela ex- professora de educação infantil Bel Barbiellini, retrata a história de Julia e Lia que se conheceram na faculdade de psicologia e permaneceram juntas desde então.



Elas trabalham juntas em um consultório de psicologia que atende crianças e adolescentes com conflitos em relação a sua orientação sexual. E sonhavam em montar o seu próprio espaço como novas metodologias de trabalho para esse público alvo.

Uma oportunidade única surgiu na vida das personagens um treinamento de quatro meses na área de psicologia infanto juvenil na Holanda só que não teria como as duas participarem. Depois de muito conversarem, entraram em um consenso. Lia disse a Júlia que ela seria a pessoa indicada para estar participando do mesmo por já ter bastante experiência nessa área.

Após muito relutar Júlia aceita o argumento de sua amada e parte para esta viagem que seria fascinante para o campo profissional e que depois disso poderiam enfim realizar o sonho de abrirem a sua própria clinica com os conhecimentos adquiridos na Europa.

No dia do embarque de Julia rumo à Holanda. Lia conheceu Tina no Franz Café do aeroporto. Uma consultora administrativa, que através de seus olhos verdes e pele morena clara, trazia consigo uma intensidade, da qual era consciente de tudo que desejava. Elas conversaram frivolidades cotidianas, até que Lia se viu obrigada a se despedir por ter muitos compromissos profissionais.
O tempo passa e Lia segue realizando os atendimentos no consultório, sentindo – se cada vez mais sozinha e carente por seu amor estar longe.

Um dia, Lia precisa resolver algumas questões burocráticas no banco e como coisa do destino lá encontra a mesma moça com quem esteve conversando brevemente no aeroporto no dia em que Julia embarcou para a Holanda. Ela se dispôs a ajudá-la em suas questões.

Com o passar do tempo, Tina e Julia passam a sair juntas e até que acontece o convite para um jantar na casa de Tina. Excelente oportunidade para a moça para conhecer pessoas novas e se distrair. E todos passam a perceber o clima entre as duas, só que Lia ainda se mostrava relutante nesse sentido e falava o tempo todo de Júlia.

Após o jantar quando todos os convidados foram embora. Tina e Lia ficaram sozinhas e fizeram amor, fazendo com que Lia sentisse culpada em relação ao acontecido. Ela vai para o apartamento aonde vive com Julia e pensou por um bom tempo sobre tudo que estava acontecendo em sua vida.

Com o retorno de Julia, os sentimentos de Lia se confundem a tal ponto que ela afasta por um tempo de sua esposa. Deixando Julia totalmente transtornada a fim de entender o porquê de tantas mudanças bruscas.

A estrutura narrativa presente é instigante pelo fato de haver duas narradoras. Sendo que uma representa a visão de Julia em relação ao seu encontro com Lia, o relacionamento, o cotidiano das duas e o que tinha aprendido da viagem. E a outra argumentada pela Lia, relatando o que sentia em relação à esposa, seu cotidiano modificado com a viagem da mesma e o seu encontro com Tina e de como ele havia mudado sua perspectiva de vida e seus sentimentos.

O que fica bem claro na obra da autora e que muitas vezes acreditamos que um relacionamento será eterno e nos agarramos a ele como se ele fosse tudo em nossa vida. Devido a isso nos esquecemos de nos olhar sob outro prisma e que isso foi feito evitaria muitos danos sentimentais e existenciais caso o rompimento fosse inevitável.
Confiar os nossos sonhos e desejos em outro ser limitado acaba gerando desgastes emocionais desnecessários em nossa vida. Uma saída para esse entrave seria relacionar-se de forma aberta e libertária assim deixando a ideia de posse do ser amado completamente ausente.

Temos a capacidade de amar muitas vezes só que com intensidades diferentes e que esses amores podem nos fazer ser quem somos. E que a vida é uma breve passagem por isso não se deve limitá-la a rótulos e roteiros definidos.

Algumas conversas inesperadas explicam muitas vezes no que erramos em relação a vivermos em um mundo fechado e restrito quando estamos em um relacionamento e que essa desatenção pode gerar conflitos e situações mal resolvidas.

Quando de repente acontece um acidente faz com que uma pessoa querida parta e muitas perguntas ficam sem respostas se ela realmente nos amou realmente mesmo que desencontros tenham acontecido, será que traição é falta de amor ou de respeito e se a morte é realmente o fim de tudo ou começo de algo novo em nossa vida.

Trechos marcantes na publicação são estes abaixo que buscam expressar o quanto passamos a vida escondendo nossos reais sentimentais e como nos prendemos as convenções sociais para definir o que seja amor e de como devemos nos relacionar com o outro independente da nossa orientação sexual.

“Minhas palavras ficaram trancadas em armários por um longo tempo. E agora, do lado de fora, vou mostrando aos poucos o mundo colorido e nem sempre bizarro em que vivemos. Preciso conquistar meu espaço, divulgar minhas palavras, desenhar sentimentos. E assim, quem sabe, levar um pouco mais de esperança, amor e respeito ao próximo. O outro lado do muro é o meu ponto de partida.”

O amor não se evapora quando um relacionamento acaba ele se transforma. Se o relacionamento for bom com momentos agradáveis, de respeito e carinho. Ele se torna eterno, fica dentro de nós para sempre!.

Imaginar um triângulo amoroso em um romance lésbico é algo tido como tabu pelo fato da sociedade enxergar o relacionamento entre mulheres como extremamente monogâmico e regido mais por sentimentos do por que paixões avalassadoras. A autora mostra que é possível existir paixão e desejo em uma relação lésbica e que diferentemente do que ocorre no universo homossexual masculino essa atração pode se transformar em sentimento profundo podendo levar a vários questionamentos a respeito do que seja amor e paixão.

Por vivermos em uma sociedade machista a ideia de intimidade sem a existência de um pênis possa parecer perturbadora para muitos. A trama desenvolvida pela autora narra com sensibilidade, delicadeza e clareza, que o beijo, toque, cheiro, carícia podem sim, satisfazer uma mulher sem a existência de um papel masculino nessa ligação sexual já que são duas mulheres nela envolvida.

                                                Bel Barbiellini


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E a fanpage do livro para quem se interessar em compartilhar a sua experiência de leitura com outros.


Espero que tenham gostado. Em breve novas resenhas! 







2 comentários:

  1. Olá Luiz Fernando...
    O Outro Lado do Muro é meu 1º livro.... obrigada por escrever a 1ª resenha dele...
    Um abraço, Bel Barbiellini

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  2. Bel, foi um prazer ler a sua obra e ter a honra de resenhá-la.

    Espero que você tenha ficado satisfeita com o resultado.

    Abs,Luiz Fernando

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