quarta-feira, 30 de julho de 2014

Resenha do livro - A Visita


A obra do jornalista Alex Francisco relata a história de amor de Dalmo e Tales, cheia de desencontros, até que um deles é preso por um crime que não cometeu; uma inesperada visita os faz relembrar de momentos bons e ruins em suas vidas. 



O livro é escrito em forma de roteiro teatral e por isso é dividido em três atos.



Personagens da trama
  •          Dalmo
  •          Tales
  •          Cadu (Amigo de Infância de Tales).
  •          Inácio (Pai de Tales)
  •          Rosana
  •          Fernando/Nina Shine (Tio de Tales)
  •          Kléber (Traficante)


No Primeiro ato há cinco cenas que marcam o início da história.

Cena 1 – Julgamento
Dalmo é sentenciado com a pena de 12 a 30 anos de reclusão.

Cena 2  – Cela do presídio
Inácio arrasta Dalmo para a cela e quando está tudo escuro. Ele ouve uma voz embaixo da cama e logo Tales levanta-se. Dalmo não entende como o seu amado entrou naquele lugar, discutem por algum tempo; logo se aproximam de uma forma romântica e profunda e relembram o dia em que se conheceram.

Cena 3  – Calçada do bar gay
Tales naquela época não se percebia como homossexual e olhava na direção da entrada do bar para ver se tinha alguém por perto. A indecisão de entrar no bar permeava o seu ser. Dalmo entrou, ficou à porta, olhou o movimento da rua e acendeu um cigarro. Tales tentava parecer natural e Dalmo o observava. Depois de alguns instantes eles começaram a conversar. Inicialmente, Tales se mostrou avesso a qualquer universo, mas com o tempo o gelo foi quebrado e eles se beijaram.

Cena 4 – Cela do presídio
Os dois relembram a primeira vez que fizeram amor, no início do namoro, quando amavam-se de uma forma intensa e ao mesmo tempo romântica. Dalmo pega um poema que leu na biblioteca e escreveu um papel e o lê para Tales, que canta uma canção de Maysa. Dalmo relembra que na primeira vez que foram em um barzinho, Tales escolheu um bar acima de qualquer suspeita; nele conheceram Rosana, a dona do estabelecimento, que também era grande fã da cantora Maysa.

Cena 5 – Bar Mambembe da Rua Augusta
Eles relembram do dia em que foram para a Rua Augusta(movimentada rua de São Paulo).Tinham marcado de sair com um casal de amigos que lá moravam, mas que faltaram; acabaram parando no bar mambembe. Quando lá chegam, logo se sentaram para ver a apresentação de uma cantora. E Dalmo gostou muito do fato de ela ter cantado Maysa. A apresentação tem um intervalo. Tales e Dalmo batem palmas. A cantora espantada se aproxima. Rosana se apresenta a eles e logo conversam sobre Maysa, as diversas experiências que a noite proporciona, sobre decepções de amor, sobre o deslocamento de Tales naquele ambiente e o mundo gay. O show recomeça e passado algum tempo segue-se a trilha instrumental.  Dalmo e Tales caminham até o centro do palco. Dalmo pede Tales em namoro e um beijo intenso sela o início de relacionamento.

As cenas do Segundo ato marcaram o desenvolvimento da trama.

Cena 1  – Cela do presídio
Inácio reclama da cantoria e vai até a cela falar com Dalmo, que, aflito, pede para que Tales se esconda debaixo da cama. Inácio fala duramente com Dalmo por não aceitar que seu filho tivesse tido um relacionamento com ele. Inácio bate em Dalmo. Em seguida procura por algo na cela e encontra uma garrafa de uísque. Leva Dalmo ao diretor.

Cena 2  – Casa do Inácio e Tales
Dalmo vai até a casa de Tales, que se arruma para ir com ele ao cinema. Inácio chega e repara na mão dos dois, e grosseiramente pergunta de quem se trata; Tales diz ser um colega de trabalho. A discussão entre Tales e Inácio é iniciada. Logo, Dalmo sai. Depois de muita discussão entre pai e filho, Tales é expulso de casa e tem de reestruturar a sua vida de forma repentina.

Cena 3 – Cela do presídio
Dalmo relata que levou uns socos por terem encontrado a garrafa de uísque. Tales fica chocado com as coisas que o seu amado vem sofrendo na cadeia e não entende o porquê de seu pai ser tão cruel. Tales lembra que a sua mãe sempre adorou a noite e que o seu tio irmão de sua mãe também adorava. Dalmo pergunta para Tales se ele tem noticias do seu tio. Ele diz que nunca mais o procurou. 

Cena 4  – Boate/Camarim
Tales segue o tio e tem uma surpresa ao se deparar com a vida dupla dele. Eles conversam sobre a vida e Fernando diz ao sobrinho que a vida não é um conto de fadas, e que muitas vezes temos de escolher uma vida de aparência se desejarmos ter sucesso na vida profissional e com isso viver a sua outra vida sem grandes problemas. Disse também que não existe amor, mas sim momentos de prazer. Dá algum dinheiro para o sobrinho recomeçar a vida em outro lugar onde possa viver em paz. Tales reluta em aceitar o que o tio diz e também em ficar com o dinheiro. Tales no fim fica pensativo e com o envelope na mão.

Cena 5 – Casa de Dalmo
Dalmo e Tales discutem. Depois disso, Tales sai da casa de seu namorado decidido a dar um novo rumo a sua vida. Dalmo chora desesperadamente.

Cena 6 – Monólogo Tales
Tales relembra a discussão que teve com Dalmo, os momentos que viveu nos Estados Unidos e sua chegada ao Brasil. 

Cena 7 – Cela do presídio
Eles estão abraçados e Tales está chorando com a lembrança de como tudo aconteceu e de como o surgimento de Cadu, seu amigo de infância, modificou para sempre a vida deles. 

As cenas do Terceiro ato celam o desfecho da trama.

Cena 1 – Balada
Tales está sentado em um dos bancos da balada. Eis que surge Cadu com uma bebida na mão e dançando naturalmente no estilo da música. Ele se senta próximo a Tales e conversam sobre o passado, o que fizeram nesse tempo em que não se viram sobre o que ele fazia para viver, o perfil de alguns homens que lá estavam. Cadu oferece um pouco de droga em um saquinho para Tales e logo sai para conversar com alguém. Tales pega um pouco e cheira.  

Cena 2  –  Casa de Dalmo
Tales e Dalmo discutem de forma passional e, inconformado com o desprezo de seu agora ex-namorado, Tales logo sai em busca de algo, vai para a casa de Cadu, que foi facilmente achada porque ficava perto da balada, e Cadu era muito conhecido por ali.

Cena 3 – Casa de Cadu
Já na casa de Cadu, eles começam a conversar sobre a antiga relação de Tales. Em seguida eles brindam ao reencontro e começam a fazer amor em um ritmo selvagem e alucinante. Na manhã seguinte, Cadu impaciente acorda Tales e os dois começam a discutir; Tales sai dali sem chão diante do ocorrido. 

Cena 4  –  Casa de Dalmo
Alguns dias se passaram desde o ocorrido na casa de Cadu, Tales aflito confessa a traição a Dalmo e diz que se não fosse por ele não teria feito o exame de HIV. Dalmo reluta em saber os detalhes da traição e diz a Tales que o melhor caminho não é fugir e que tudo se faz tem consequências. Passado algum tempo, o envelope é aberto por Tales; o resultado do exame é negativo. Ambos vibraram de felicidade e se beijam romanticamente. A campanha toca insistemente e Dalmo diante da insistência logo vai ver quem é. Era Cadu, que disse precisar falar com Tales. Dalmo tenta expulsá-lo sem sucesso, mas Tales fala a Dalmo que aquele é seu amigo de infância, Cadu.

Dalmo fica indignado com a presença dele e pergunta como ele tinha cara para lá estar depois de tudo o que ele fez. Ele disse que devia muito dinheiro para uns caras e que não podia; aquele seria o lugar mais longe que ele conseguiu ir, e com o tempo conseguiria o dinheiro e iria embora. Cadu e Dalmo brigam. De repente surge Kléber com uma arma apontada para eles. Cadu e Kléber conversam sobre a questão da divida, Dalmo e Tales se protegem. Dalmo fala para ele os deixar em paz já que não tinham nada a ver com aquela questão. Em meio a esse ambiente de tensão total tiros são disparados. 

Cena 5 – Cela no presídio
Nessa última cena a repórter descreve detalhes do que teria acontecido naquele apartamento na região central de São Paulo. Depois de algum tempo, Dalmo é acordado por Inácio e se vê perdido diante do que teria vivido na noite anterior.

A mensagem trazida pela publicação é a seguinte: enquanto houver preconceito em relação à homossexualidade, muitos homossexuais estarão à mercê de um mundo que os obrigará a renunciar a sua verdadeira essência para poderem viver melhor em seus empregos e outros setores sociais existentes, e que amor é amor independentemente de quem sejam os protagonistas desse sentimento.

Também critica os ditos “guetos-gays” que podem ser cruéis e fazerem com que o sexo seja algo essencial na vida, e com que os sentimentos não sejam levados em conta, porque muitos têm medo de um envolvimento emocional mais profundo, com medo de traições ou de assumirem-se publicamente devido a pressões sociais.

Essa crueldade, existente nesses ambientes, só será diminuída quando a porta do armário for rompida. E muitos gays terem consciência que ao fazer isso à qualidade nas relações afetivas serão maiores e o que dará forças para lutar contra todo tipo de preconceito existente por parte da sociedade e da família.

O poema de Joél Gallinati Heim chamado “Desejo e Prazer” foi um dos trechos prediletos da obra por expressar que as emoções existem independentemente do que se dita como correto e normal em uma sociedade. Mostra que o amor é tecido por paixão, desejo, prazer e acima de tudo por perdão, solidariedade e fidelidade ao que se vive com a pessoa amada.

 “Meu corpo junto ao seu te aquece/ Braços te envolvem com firmeza
Mãos percorrem sua pele macia/ Línguas provam nossos sabores
Seu corpo se entrega ao prazer/Bem suave te penetro lentamente
Deslizando avanço toco seu íntimo/Um calafrio de tesão te percorre e
Você geme com uma volúpia intensa/Derramo meu leite num gozo pleno
Um instante a saborear o momento/Seu rosto iluminado com um sorriso
Vejo o desejo de quem quer mais/Então prometo ser seu para sempre.”.

As idas e vindas dos personagens expressadas através de seus sonhos e desejos mesclam-se com diferentes sentimentos em uma teia intrínseca de equipamentos que penetram na essência do ser, fazendo com que realidade e sonho sejam mesclados e dessa mescla intercalem-se momentos de lucidez e alucinação. Cabe ao leitor mais sensível a resposta para esse enigma traçado pelo autor.

 Alex Francisco

“A visita” foi escrito com dois finais. Um deles foi para o livro, publicado em 2013; o outro seguiu guardado para o teatro.

O espetáculo baseado no livro “A visita” que está sendo encenado no teatro Piccolo Teatro até o dia 23 de Agosto traz o desdobramento de um dos finais. Os atores estão preparados para as duas versões, mas só ficam sabendo qual será o final do dia no momento da cena. Então, o público que assiste e toda a equipe têm uma emoção e uma experiência diferente a cada apresentação.




Espero que tenham gostado. Em breve novas resenhas! 






sexta-feira, 25 de julho de 2014

Resenha do livro Homossilábicas - Volume 3

Homossilábicas

Trata-se de um projeto da Editora Escândalo que convida escritores de temáticas LGBT a participar de um concurso de contos, e a partir disso realiza a publicação de um livro com os autores selecionados.


Em sua terceira edição, conta com 11 contos que exploram diferentes nuances do que seriam amor e desejo.

No primeiro conto chamado Presente de casamento,do autor Alexandre Calladini,relata a história de João Alfredo Werneck,um famoso fotógrafo de casamentos que depois de uma desilusão amorosa do passado não acredita mais no amor e só realiza o seu trabalho por ser algo rentável. Quando o destino lhe reserva uma bela surpresa ele é chamado para fotografar o casamento de Cristina e o Amadeu,antigos colegas de faculdade. Sendo que Amadeu foi o seu grande amor do passado e ficou desconsertado com a situação. Mesmo em turbilhão emocional,seguiu adiante com o seu trabalho até que há um encontro com Amadeu no momento em que está fotografando o noivo a espera da noiva no altar, e diante do reencontro Amadeu fica emocionado e sua mãe pede que o fotógrafo o leve até a sacristia para se recompor. Há uma conversa tensa entre os dois a respeito do passado e de sentimentos que ainda estavam presentes em seus corações. A leitura dessa história me fez perceber quando há algo mal resolvido em sua trajetória o destino sempre lhe reservará um encontro para o dito acerto de contas,para assim se poder seguir em frente sem amarguras,e,quem sabe, surpreender com um belo desfecho. Cabendo a você determinar o que será relevante a ser considerado como as linhas iniciais de sua futura jornada.

   Alexandre Calladini 

No segundo conto, chamado Sobre o Amor Definitivo, da autora Anita Prado, trata-se de uma carta escrita por César para seu ex-namorado Rogério, em que fala de seus sentimentos em relação a traição sofrida, da vontade que teve de ir a um bar tomar um porre para se consolar do seu rompimento. Quando, no caminho, passa em frente a uma igreja evangélica onde alguns “irmãos” se reuniam com bíblias nas mãos. Depois dessa cena foi até o bar, e optou por tomar um suco por lembrar que sempre depois de uma bela noite de bebedeira sempre vem acompanhada de um dia de ressaca. Logo, volta para casa e acende uma vela para seu anjo da guarda e para Deus. Sentado na beira de sua cama tem um encontro surpreendente que lhe consola com belas palavras, e lhe faz desmitificar conceitos do que seria o verdadeiro amor. Ao ler este conto percebi que o consolo para suas angústias está maior do que se pensa e que os seres humanos devido a seus prejulgamentos tendem a oprimir uns aos outros, e, com isso geram traumas e conflitos desnecessários, que impedem os ditos rejeitados por possuírem uma maneira diferente de ver a vida de se aproximarem de sua espiritualidade por estar enraizada em conceitos tão arcaicos.

                                                   Anita Prado 

O terceiro conto, chamado Velha-Guarda, de mesma autora, conta a história de uma lésbica masculinizada que tem um amigo gay chamado Xuxa, que segundo a personagem, busca explicação para tudo na vida. Segundo seu amigo, ela pode ser na verdade um homem trans, e não uma lésbica, por ter conceitos e pensamentos de uma essência masculina. Mas, ela se identifica como sapatão. Ela se encontra perdida no atual cenário lésbico, pelo fato de se dizer da velha-guarda. Por não conseguir entender como duas lésbicas masculinas ou duas lésbicas femininas podem se relacionar entre si, e que muitas optam por um visual que permeia entre o feminino e masculino. Esta história me fez entender que muitas ditas lésbicas masculinizadas, por medo ou falta de informação, se escondem sob essa identidade para poderem seguir vivendo sem medo de grandes conflitos que a transexualidade traz em nossa sociedade. Como por exemplo, nascer em um corpo distinto de seu ser.

O quatro conto, chamado Aquele Que Se Morde Para Experimentar o Corte dos Dentes, do autor Rodrigo Machado, relata a história de um rapaz que é ajudante de obras e passa para o Sr.Florisvaldo, em reformas de salas comerciais, e em construções através de Marcos que conhecia o seu avô. Ao lado de Leno, Carlos e Marcos vivencia muitas experiências em prostíbulos e bares. Vivencia a exploração de um trabalho hostil e sem grandes perspectivas, mas que ao menos lhe proporciona diversões e um meio de subsistência. Certa noite, em um trabalho, percebe uma estranha movimentação no quarto em que estão os seus companheiros de trabalho, e, diante desse episódio fica sem entender o porquê de estar desprezado por eles no dia seguinte. Ao ler esse relato percebi o quanto o machismo é presente na sociedade, e que ele faz com que homens estejam com mulheres para usá-las sexualmente, e também para a manutenção de sua virilidade através de relacionamentos como, por exemplo, casamentos e que muitos possuem desejos homossexuais, e os vivem na clandestinidade por medo de perderem o seu papel de homem na sociedade, por entenderem que ao ficar publicamente com o mesmo sexo estarão renunciando aos privilégios da masculinidade.

                                                    Rodrigo Machado 

O quinto conto, chamado O Filho do Pai: a dor do amor, do autor Daniel Manzoni, relata a história de um pai que tem um filho homossexual e uma mulher com problemas psicológicos que rejeita totalmente a homossexualidade de seu filho, e ele, envolto nesse conflito familiar, se vê perdido, e quando tem um encontro com um rapaz da mesma faixa etária e vão para um café conversar, e em seguida, se dirigem até um hotel no centro da cidade. Ele vivencia a sua primeira experiência homossexual, para assim buscar entender o que o seu filho busca em um homem, e depois dela se sente mais perdido, e quando vai para a casa discute bravamente com o seu filho. Depois da discussão, ele fala ao filho que ele não precisaria buscar fora de casa aquilo o que lhe faltava. A lição que fica deste conto é que enquanto a sociedade não entender que a homossexualidade é uma forma de amar como qualquer outra, as famílias estarão vivenciando conflitos desnecessários aos seus membros, e fazendo com que muitas descobertas que deveriam ser encaradas de forma saudável, sejam entendidas como possíveis distúrbios, por não se enquadrem ao padrão social.

                                                      Daniel Manzoni

O sexto conto, chamado Memórias Levantadas Pelo Vento, do autor Miguel Vicentim, relata a história de um rapaz que tem o seu mundo centrado por Fábio, o grande amor de sua vida, só que por desencontros da vida eles não estavam mais juntos. O que seria mais um final de semana de sessão de cinema solitária, acaba conhecendo Marco, um jovem moreno alto, bonito e sensual. Os olhares se encontraram e telefones foram trocados. Um telefonema foi dado, e com isso um novo encontro acontece na casa de Marco, já que seus pais tinham viajado. Os desejos do encontro anterior foram saciados, e na noite seguinte eles se despedem com um beijo ardente e a promessa de um novo encontro. Como a vida não pode deixar de surpreender, Fábio depois de algum tempo surge na vida do nosso personagem, e ele fica dividido entre o passado e o presente. Um trecho presente no livro, em minha opinião, define a mensagem que o escritor quis transmitir: “Não existem respostas, não existem justificativas, existem apenas narradas. E muitas destas histórias estavam ao nosso lado, espalhadas pelo chão.”.

                                         Miguel Valentim 

O sétimo conto, chamado Transformações do Amor, do autor Ben Oliveira, relata a história de Boyce, que vive a sua homossexualidade de forma escondida e sem grandes envolvimentos, por ser casado com Lauren, que sempre foi sua confidente e sabia desde sempre de sua situação. Casaram-se e tiveram uma filha, como manda o padrão social estabelecido. Lauren também seguia a mesma filosofia de seu marido, se envolvia sexualmente com outros homens. Mas, nada de envolvimento emocional com nenhum deles. Esse cenário passa a se modificar com a chegada do jovem Joca, um peão que vai até a fazenda deles em busca de emprego e de um lugar para ficar, nem que seja por pouco tempo. Boyce se comove com a situação e conversa com sua esposa para que o rapaz possa ficar na fazenda, mesmo que seja por um tempo, e ela permite.  Com a convivência, Boyce e Joca passam a conversar cada vez mais, e vivenciam deliciosas experiências sexuais, e o sentimento entre os dois se desenvolve. Boyce se vê perdido diante da possibilidade de amar um homem, e ao mesmo tempo ter de manter a sua vida de casado.  Na leitura dessa história entendi que o amor surge nas situações mais improváveis, e que por mais se fuja dele, uma hora ou outra ele nos encontrará em nossa jornada. Que a vida de aparência traz muitos desencontros e infelicidades que se acumulam com o tempo e toda uma trajetória pode ser perdida se não houver luta para se ser quem é na realidade.

                                          Ben Oliveira

O oitavo conto chamado, Da Cor do Açaí, do autor Sérgio Viula relata a história de um homem solitário que com a chegada de seu novo vizinho, Pedro Paulo, que apesar do nome cristão, era filho de um holandês com uma índia. Ele notava toda a beleza e solidão que existia em seu novo vizinho. Até que um dia há uma aproximação entre os dois e passam a conversar sobre algumas coisas na varanda de Pedro Paulo. Só que o nosso protagonista convida o vizinho para conhecer o seu trabalho de tradução em sua casa. Lá, ele se mostrava maravilhado com as traduções do protagonista, e ele fala de mitos gregos em que se abordava a história de amor entre dois homens e nada disso parecia chocar Pedro Paulo. Eles se tornam mais cúmplices e o vizinho confessa que adorar nadar e logo surge o convite do tradutor de irem juntos nadar. Quando lá chegam há um total estado de contemplação por parte dele ao corpo daquele mestiço com traços indígenas e holandeses. O que me marcou nessa narrativa é o fato que apesar das convenções sociais impostas por diferentes sociedades, quando alguém deseja realmente se encontrar em sua trajetória precisa muitas vezes ir para outros lugares em que possa recomeçar sem as amarras do passado e que o sentimento de desejo pode muito bem, com o tempo, se transformar em algo profundo basta se abrir para isso.

                                             Sérgio Viula 

O nono conto, chamado Era, do autor Felipe Moreira, relata um jovem que acaba conhecendo um rapaz em uma festa. Conversaram por um tempo sobre casualidades da vida, e logo o desejo entre eles fala alto quando se beijam e se abraçam. Depois de um tempo, contemplam juntos o céu. Eles se sentiam conectados como se tivessem se conhecido há muito tempo. O nome dessa narrativa me chamou atenção pelo fato de que simboliza quando não importa o tempo em que se conhece alguém, ou em que ocasião o conheçamos, o grau de importância que terá em nossa vida dependerá do grau de conexão obtido nesse primeiro encontro. Por isso, ao lê-lo me senti em meio aquela frase clichê: "era como se eu tivesse conhecido há décadas".

                                            Felipe Moreira

O décimo conto, chamado Vagalumes nos Jardins, do autor Cìcero Edinaldo, relata a história de um rapaz que perdeu sua mãe muito cedo e ficou aos cuidados de sua tia que tinha dois filhos. Ele era tratado como se fosse da família, e por isso se sentia parte integrante daquele lar. Em sua adolescência o seu primo Èsau lhe surpreende com declarações amorosas, e ele que também nutria um sentimento por seu primo, logo se rende a esse sentimento. Eles passaram às escondidas, a tere relações sexuais por três vezes por semana, só que com o passar do tempo, Èsau já não era mais tão carinhoso e só o procurava para satisfazer suas necessidades sexuais. Inconformado com isso, confronta o seu primo para uma conversa e descobre da pior maneira, como era visto na realidade por ele. A depressão toma conta de seu ser e logo desperta a preocupação de sua tia atenciosa. E ele sempre na defensiva, sem querer recuperar a sua autoestima. A mensagem contida nessa narrativa é que nem sempre os desejos carnais são bons conselheiros quando esperamos algo mais profundo de uma pessoa, e que devido ao preconceito interno e externo, muitos acabam não assumindo o que sentem na realidade e acabam magoando os outros e a si mesmos.

                                           Cícero Ednaldo

O décimo e primeiro conto, chamado O Ponto do Amor, do autor Tales Gubes, relata a história de um rapaz mais velho que se apaixona a primeira vista por um mais novo, quando o vê num ponto de ônibus. O protagonista tem delírios românticos com o seu amor, e acredita na possibilidade desse amor um dia se concretizar. Esta última narrativa nos mostra que, às vezes, a não realização de uma relação, ao invés de deixar alguém amargurado e triste, pode levá-lo a ser esperançoso e crente em novas possibilidades que a vida pode trazer.

O projeto Homossilábicas além de fazer com que escritores e escritoras possam mostrar o seu talento como contistas, revela a multiplicidade existente na literatura LGBT.

                                                Tales Gubes



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Espero que tenham gostado. Em breve novas resenhas! 





quinta-feira, 10 de julho de 2014

Resenha do livro - Viagem Solitária – Memórias de um Transexual Trinta Anos Depois

A obra publicada pela editora LeYa no ano de 2011 conta a história de João W. Nery, o primeiro transexual que se teve notícia no Brasil.

                                   
Há narrativas de sua infância triste e confusa em que é tratado como menina, a adolescência conturbada que há o início da “monstruação” – termo utilizado pelo autor para descrever a menstruação, crescimentos dos seios, o processo de afirmação de sua verdadeira identidade de gênero e a paternidade.
                                   

Em sua vida como Joana era formada em Psicologia pela UFRJ, pôde lecionar em universidades e atuar em seu consultório psicológico. Quando assumiu a sua identidade masculina devido àquela época não haver como modificar o nome de registro e sexo nos documentos, teve refazer a sua documentação e com isso teve de reiniciar a sua vida.

                               
Como João teve um emprego como taxista, que lhe deu certa independência financeira e a possibilidade de sustentar e manter o primeiro casamento com uma mulher, a busca por ser reconhecido e desejado como homem, inclusive perante sua família, embora ainda vivesse no corpo feminino.

Relata a verdadeira epopeia percorrida por João a fim de se obter laudos que lhe permitisse realizar a cirurgia de readequação de sexo.  Quando finalmente em 1977 em plena ditadura militar se submeteu à primeira cirurgia de mudança de sexo. Naquela época, as clínicas e os hospitais ainda não estavam liberados para fazer esse tipo de cirurgia, e os médicos que se propunham a realizá-las eram considerados mutiladores, a ponto do médico que operou o João chegar a ser indiciado – e condenado a dois anos de prisão – por lesão corporal por uma mesma cirurgia de mudança de sexo em uma mulher trans, feita em 1971.

O livro descreve a dor sofrida por João ao ser traído pela mulher amada e dessa infidelidade resulta uma gravidez. Ele não só não supera o fato como também assume a paternidade da criança e desenvolve uma relação de amor e devoção a esse novo ser.

João vivencia o auge da paternidade ao participar dos momentos cotidianos no desenvolvimento de seu filho.

A leitura da obra traz as seguintes reflexões se identidade de gênero partisse do principio de ser uma opção, então quem em sã consciência escolheria ter o psicológico oposto ao seu sexo biológico para sofrer de todo o tipo de discriminação existente a transexualidade, quando a mesma ainda é confundida com orientação sexual.

O que poderia ser feito para a medicina poderia auxiliar melhor a qualidade de vida de transexuais em todo o mundo?

Como a educação poderia e deveria auxiliar a sociedade a compreender o que é transexualidade para assim eliminar os preconceitos existentes?

A obra é tecida por dor e coragem. A mensagem que fica é a de que os ditos diferentes podem e devem lutar para encontrar o seu lugar nesse mundo mesmo que no decorrer desse caminho haja muitas adversidades!


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Para conversar com o autor João W. Nery sobre a obra,seu perfil no facebook é




Espero que tenham gostado. Em breve novas resenhas!










quarta-feira, 2 de julho de 2014

Resenha do livro - Orgias literárias da tribo

Trata-se de uma coletânea organizada por Fabrício Viana em que há autores dos mais variados segmentos da literatura LGBT.


No prefácio da obra Viana define o que seria uma orgia literária e convida o leitor a participar e interagir com os diferentes autores sem prejulgar o conteúdo e sim lê-los com a mente aberta. Destaca que o principal objetivo existente na publicação é possibilitar o contato com diferentes realidades além das que você vivência em seu universo para assim se sair da zona de conforto e se conhecer diferentes prazeres.

Nos textos de Marina Rodrigues você verá como foi à descoberta da transexualidade da autora, como foi o processo de assumi-la em seu trabalho e nos diversos setores e expõe de forma clara a diferença de identidade de gênero e orientação sexual.

No conto “Se as estrelas falassem...” do autor Caio Gomez nos faz refletir sobre o quanto o amor pode doce, sublime e ao mesmo trágico dependendo das escolhas feitas em nossa vida. Independente dessa tragédia que esse sentimento possa causar a nós e ao outro não há algo que possa ser chamado de vida sem a presença dele.

No conto “Julia e Sara” da autora Karina Dias há a narração do encontro de duas mulheres com muita sensibilidade, leveza e sutilezas presentes em um romance lésbico. Só que a autora transpor essa barreira com a linguagem universal romântica empregada em toda história de amor que se preze e ainda há o clássico final feliz.

Nos textos de Oliver Lebruter está presente a crítica bem humorada dos guetos gays existentes e que há momentos na vida que a reflexão pode nos salvar de uma visão medíocre do mundo e das pessoas.

No conto “Loucas (in) decentes” da autora Laris Leal traz a história de duas mulheres que se conhecem em um bar de rock e vivenciam momentos de muito erotismo e breve romantismo. Essa história me fez vontade de vivenciar algo parecido em uma pista de dança daqueles tipos bares de rock existentes nos anos 80 onde as luzes e as músicas inebriavam qualquer paquera.

O conto de Evertton Henrique está dividido em três capítulos que narra à vida de Jonathan um egocêntrico que é guiado por seus desejos e instintos e que sem importar com ninguém vivencia o que tinha vontade e sem pensar nas consequências que isso lhe traria um dia.

A autora de Paula Guedes fala de suas próprias vivencias e ao mesmo tempo em que as envolve em viés ficcional. 

No primeiro texto “As quatro estações” fala do florescer de um relacionamento até o seu ruir. E no segundo texto “As caixas passadas” aborda como é chegar ao fim de uma história e o que isso nos provoca. E para finalizar Paula também orienta os iniciantes no universo LGBT e critica o machismo vigente na sociedade em só enxergar o lesbianismo como um fetiche.

No conto do autor Heller de Paula conta a história de um homem religioso que vive um conflito entre os seus desejos e os preconceitos por ele adquiridos devido a sua religiosidade. De Paula mostra o quanto à repressão de uns pode servir para outros se libertarem.

“Nos textos “Linha Vermelha” e” A solidão ocupa espaço que se dá para ela” Meggie M aborda a solidão de três lésbicas em diferentes estilos de vida e como elas buscam preencher esse vazio e, que na maioria das vezes se contentam em olhar para o passado ou com distrações para aplacar o exílio existente nos seus seres.

No texto de Raphael Pagotto  chamado “Feliciano um dia me representou”, relata a sua experiência com a cura gay. Conta que um dia foi defensor desta terapia e hoje luta contra ela contra todas as forças por ter entendido que a sua orientação sexual não é algo demoníaco. E o autor também compartilha alguns poemas e o meu favorito foi “Língua oca”. Confira um de meus trechos prediletos:

“Meu destino é ser nômade,
sempre ás margens do rio
em que lavarei meus cabelos
até amaciarem os fios.
Gota a gota.”.

Para encerrar essa orgia há o texto de Ben Oliveira chamado O Universo Literário Colorido que fala da importância de se surgirem novos autores para elaborarem textos sobre a temática LGBT para assim haver um desenvolvimento literário nesse segmento. Que ela não seja só pro LGBTS, mas também por heterossexuais que desejam abrir a sua mente acerca desse universo colorido.



Orgia literária é uma obra que recomendo a leitura por mostrar que Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais possuem sonhos, anseios, vícios, luz e trevas como qualquer pessoa e isso desmitifica que essa população vive em eterno frenesi.

Você será o responsável por qual estrada percorrerá ao término da leitura integral da publicação.

Sobre o organizador da obra - Fabrício Viana (www.fabricioviana.com), escritor do livro O Armário (sobre a homossexualidade) e Orgias Literárias da Tribo (uma coletânea LGBT), além de ser bacharel em psicologia e pós-graduado em comunicação e marketing. Também é sócio da Editora Orgástica (www.editoraorgastica.com) e estuda e dá palestras sobre sexualidade humana

Sobre a Editora Orgástica – criada com o objetivo de promover o prazer literário com temas ligados à sexualidade humana, desde a educação sexual de nossos filhos - e que acreditamos ser algo primordial para um futuro saudável e livre de neuroses – até textos e coletâneas eróticas capazes de arrepiar todo o nosso corpo: mas sempre de forma séria, respeitosa, ousada e natural, como a própria sexualidade deveria ser.


Caso você tenha interesse em comprar seu exemplar, você pode comprar no site do autor: www.fabricioviana.com/livros ou ainda no site da Editora Orgástica: www.editoraorgastica.com

A compra online é segura, a embalagem é discreta e se você não receber o livro em até 14 dias o PagSeguro devolve seu dinheiro. Se morar em São Paulo, o livro não vende em livrarias, mas você pode comprar na Banca de Jornal Mastrorosa que fica na Av. Dr. Vieira de Carvalho, 10, ao lado da Praça da República.


Espero que tenham gostado. Em breve novas resenhas!